O velho mago vinha andando na frente com sua esvoaçante capa roxa com bordas e desenhos em dourado, enquanto seus dois novos companheiros discutiam e se alfinetavam poucos metros atrás. O Sol já estava se pondo e o dia inteiro foi assim, exatamente como o anterior, e a paciência do arcanista estava se esgotando. Ele havia prometido a Mognar, um amigo muito próximo do rei, que levaria até o reino vizinho, uma poção mágica, que ele mesmo tinha feito, para curar uma sobrinha do homem que havia caído sob uma doença ou maldição misteriosa. Claro que o velho conjurador tinha em sua mente que, fazendo isso, Mognar falaria ao rei, que poderia lhe dar uma recompensa melhor que as poucas moedas que seu amigo ofereceu, e o mago recusou, para parecer ainda mais benevolente. Tudo muito bem calculado, mas ele precisava de mais gente para atravessar o Vale dos Três Dias, que tinha esse nome por levar três dias para atravessá-lo de ponta a ponta, que separava os dois reinos. Se ele fosse...
Todos esses planos descartados e nossas promessas não cumpridas Tantas as lembranças doloridas Gemidos de choros abafados Antes beijos, agora recados Tolas esperanças corroídas As folhas e petalas caídas Presentes e abraços nunca dados E de nós, o que sobrou agora? Apenas você e eu, nada mais Você distante e eu sozinho Andando além de um “nunca mais” à sombra de um pesar mesquinho que restou do amor de outrora.
Foi durante um banho que veio a ideia, enquanto a água lambia a pele de cima a baixo, e as mãos, uma munida de sabonete meio gasto e a outra nua a escorregar na espuma, desenhavam no corpo uma sintonia aparentemente caótica. Aparentemente. Não se apressou. Deixou que a ideia conversasse um monólogo assistido ali dentro de sua caixa craniana. Visualizava as frases, repensava concordâncias, ia e voltava desordenadamente, tentando casar as palavras de forma que mais se deixasse confortável. Enquanto se secava, lixando o couro úmido com uma toalha amaciada, pensava "essa sim é uma ideia. Devo pôr no papel, ou numa tela. Devo escrever! Tirar da mente, trazer ao mundo. Devo parir". Jogou a toalha na cama, estendeu-se apressadamente, enfiou-se numa roupa velha de ficar em casa, sacudiu os cabelos, alcançou o celular e jogou-se na velha cadeira de balanço. As palavras pulavam da mente para os dedos e dali para a tela do aparelho. Às vezes, uma ou outra, das mais estrambólicas, fazia ...
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