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O Dia

O Sol me lambia o rosto como sua língua, um dia, me lambia a bunda. Eu sentia as papilas gustativas do calor a alisar minha tez de pêssego velho e toda sua secura com ranhuras, rachaduras e células duras. O dia prometia ser mais um dia daqueles amarelos, arrastados, estenuantes, como aqueles textos chatos, cheios de adjetivos em excesso e comparações desnecessárias. Um dia prolixamente quente. Eu só queria me deitar reduzido sobre suas amplas nádegas, pingando suor e me derretendo sobre sua pele macia. Ah, como eu queria me sufocar entre suas coxas trêmulas, a dormecer entre seus seios embriagado com o cheiro agridoce que se cria na parte de baixo das tetas após um dia todo de labuta. Mas lá ia eu mais uma vez para mais um dia filho da puta, com o sol a me lamber a pele através do parabrisa rachado e cagado de pássaros que me lembrava a todo momento como eu era também quebrado e sujo. Preciso levar esse carro pra lavar.

O final de um sonho

Certa noite, há um bom tempo, sonhei. Não me recordo do sonho todo, apenas do final: um menino tinha criado um mundo inteiro, com toda a complexidade de vidas que um mundo pode ter, mas virtual. Eu observava o menino dando os últimos retoques em sua complexa criação, sentado no chão com um enorme globo virtual onde habitavam inúmeras vidas virtuais enredadas em complexas conexões de dependência. Ele se levantou e ia saindo, então o perguntei se não ia cuidar do mundo que havia criado. Ele respondeu "Se estiver tudo certo, eles vão se virar sozinhos. Se não estiver certo, vão se destruir sozinhos." e saiu pra brincar de bola. Senti que esse menino era Deus. 

O cú e a bunda

O meio da bunda é o cú O mundo do cú é a bunda No meio do olho do cú Um cheiro de merda imunda O meio da bunda é o cú Um cheiro de cú vem da bunda Na beira do olho do cú Coloca um dedo e afunda 

Cachoeira do Serrado

Vinham andando por uma trilha pouco utilizada cercada da baixa e controcida vegetação do cerrado. Duzendos metros para trás ficou um cachoeira bem frequentada, mas agora os dois exploravam a parte mais para cima, em busca de outras quedas d'água que sabiam existir. Após passarem por um arbusto de folhas escassas, ele notou à esquerda uma trilha menor que levava a um riacho . Pelo menos é o que o som de água lhe parecia informar. - Aqui! Deve ter uma cachoeirinha por aqui. - Você está pensando sacanagem ? Ela questionou, percebendo que estavam se tornando isolados e escondidos. - Não! Estou pensando em ficar sentado abraçadinho com você. - Ele respondeu com a voz carregada de sarcasmo e segundas intenções. Ela sorriu com malícia sem parar de segui-lo pelo novo caminho. Pouco andaram quando, após um pequeno barranco, avistaram a água cristalina que corria sobre lajes de pedras. Um pouco acima, para a direita, uma pequena queda d'água e, mais para cima, várias outras, todas com ce...

O que sobrou

Todos esses planos descartados e nossas promessas não cumpridas Tantas as lembranças doloridas Gemidos de choros abafados  Antes beijos, agora recados Tolas esperanças corroídas As folhas e petalas caídas Presentes e abraços nunca dados E de nós, o que sobrou agora? Apenas você e eu, nada mais Você distante e eu sozinho  Andando além de um “nunca mais” à sombra de um pesar mesquinho que restou do amor de outrora.

Soneto

Tua pele não é noite, mas pôr-do-sol teu olhar, grãos de café de torra leve o perfume, petricor na brisa breve teu sorriso é luz, para mim farol Na boca, lábios de arrebol seu andar a perfeição transcreve meu tesão sobre ti se atreve meu olhar te segue tal qual girassol Na face cor de manga madura desejo-te pungentemente mergulho em ti, és cachoeira chupo-te afoitamente como ao fruto da mangueira és da Vênus uma releitura

Duma vez só

Duma vez só Quando te vi Uma vez só E me apaixonei Foi duma vez, ó Te quis aqui Peito deu nó Quando te fitei Boca salivou A Terra parou Cabeça rodou Acho que é amor Acho que é amor Acho sim Acho meu amor Não ria de mim Não duvide não Isso é paixão É amor sim https://suno.com/song/6bc54826-e2e6-404c-ba22-72fdb1625b21