Simples
Olhou para o fundo do copo e reparou como a água escorria e se esgotava enquanto, com sua mão, virava o recipiente. Ao mesmo tempo, ouviu e prestou atenção ao som de seus goles, "glump, glump, glump...".
Eram coisas tão simples, rotineiras e banais, mas que nunca havia prestado atenção. Como os vários tons de verde que se emaranhavam na copa de uma figueira, o formato que as asas de um pássaro tomam enquanto ele voa pelos céus, o sútil toque o vento fraco a lhe roçar o rosto.
Fechou os olhos, tentou identificar tudo que ouvia, até o mais discreto som. Cantar de pássaros do lado de fora, o trêmulo gemer de um ar condicionado, passou um carro na rua ao lado e alguém arrastava os pés ao longo do corredor.
Ouviu mais atentamente e ouviu-se por dentro. Não o trabalhar silencioso dos órgãos, mas o barulho ensurdecedor de suas idéias a se reverberar na caixa craniana. Sabia que em meio àquele caos, cada fio emaranhado o levaria a um novelo com tamanho, cor e textura únicos.
Vagarosamente, de ali em diante, foi aprendendo a sentir prazer no simples. Assim, cada segundo, cada sorriso, cada passo e cada pessoa se tornou mais, tornou-se um universo de sentidos e sentimentos. A vida, sendo mais simples, tornou-se mais complexa, mais completa.
(Obrigado Red)
Comentários
Postar um comentário