Uma Piada Sem Graça

A jovem mulher desceu do carro às pressas, segurando uma pasta com vários papéis enfiados de qualquer jeito em seu interior.

Enfiou a chave no bolso e começou a andar resmungando em notável tom de sarcasmo e irritação consigo mesma “Muito bem Dra Quinzel. Muito bem! Quem mandou esquecer a revisão do carro? Quem mandou não colocar água no… no… ah! Sei lá o que vai água nessa merda!”. Uma densa fumaça escura subia da parte frontal do veículo.

Ela nem pensou em abrir o capô do carro, não saberia nem por onde começar e estava atrasada. O vento frio balançava e batia com raiva os fios loiros do seu cabelo contra sua pele branca e, ao menor descuido da mulher, levou algumas folhas de papel mal colocados na pasta.

— Não! — gritou ela com um misto de ira e tristeza nos olhos que marejaram. Ficou alguns segundos olhando as folhas fugindo sem rumo, dançando no ar como se fossem fadas sádicas se divertindo com sua desgraça. Então ela se virou e continuou andando a passos firmes e apressados em direção ao grande portão de ferro.

Ao lado do negro portão, na coluna de concreto coberta de hera, havia uma placa de metal envelhecido onde se lia “Asilo Elizabeth Arkham para os Criminalmente Insanos”. Logo acima, uma luzinha vermelha indicava fracamente onde estava o interfone.

Drª Quinzel apertou o botão e esperou alguns minutos, sem resposta, decidiu apertar novamente, mas sua mão parou no ar e ela deu um pulo assustada com o barulho metálico do portão que se abriu. “Dra Quinzel? Pode entrar.” falou uma voz masculina chiada saída do interfone.

Ela olhou para dentro e sentiu um arrepio subir por sua coluna quando fitou a enorme mansão ao longe. “Bem, vamos andando.” ela disse para si e se enfiou naquele medonho jardim que levava até a casa, sentindo calafrios cada vez que o vento movia raivosamente as folhas dos arbustos e pequenas árvores que margeavam o caminho pavimentado.

Antes de chegar à porta, viu uma luz amarela se estender e banhar seus pés. Dois homens a esperavam na entrada.

— Bem vinda Dra Quinzel. — disse o mais novo, alto e forte. Provavelmente ele que falara com ela ao interfone minutos antes.

— Ah, por favor. Me chame de Harley. — ela respondeu meio sem graça, ainda não costumada com o título de doutora quando dito por outra pessoa.

— Doutora Harleen Frances Quinzel — o homem mais velho interpelou lendo uma folha de papel em suas mãos, depois retornou seu olhar apático para a jovem em sua frente. — Quem diria? Alguém é corajoso… ou louco o suficiente para vir trabalhar aqui logo em seu primeiro emprego!

— Ora Dr Milo, assim vou acabar me arrependendo. — Respondeu Harley rindo, mas já amargamente arrependida de sua escolha profissional. Ela sempre ria quando ficava nervosa.

— Professor! Professor Achilles Milo, minha cara. — disse o velho com o dedo indicador em riste e um sorriso forçado na boca. — Entre! Jason vai mostrar seus aposentos. Eu tenho muito trabalho para te passar, mas o farei amanhã, pois hoje já está tarde. Você se atrasou! — então deu as costas e entrou na casa.

Jason, o jovem alto, deu um leve sorriso sem graça e indicou com a cabeça que Harley o acompanhasse “Amanhã o dia vai ser cheio, Doutora.”

— Meu carro quebrou lá fora e minhas malas…

— Pode deixar, Doutora. — Jason respondeu cordialmente. — Eu pego suas coisas.

⚬⚬⚬

Mal o Sol tinha posto seus primeiros raios para cima do horizonte, Harley acordou assustada com uma gritaria desesperada.

Pulou da cama sem entender o que estava acontecendo e então se lembrou onde estava, o velho Asilo Arkham.

Levantou-se e se olhou no espelho do banheiro “bom dia!”, se vestiu às pressas, não queria irritar ainda mais seu colega. Vestiu seu jaleco e desceu em direção de onde o jovem tinha lhe apontado ser o refeitório.

Ao chegar lá descobriu o motivo da gritaria. Uma mulher esperneava sendo segurada por dois enfermeiros corpulentos. “Não! Não quero!” ela gritava rejeitando os medicamentos que lhe foram enfiados goela abaixo por uma terceira enfermeira, baixa, gorda e com cara de poucos amigos.

Harley pôs a mão na boca enquanto assistia incrédula àquela desagradável cena matinal.

— Acostume-se! — Professor Milo falou de repente às suas costas — Verá coisas bem piores por aqui… todos os dias. E estou quase me aposentando. Acostume-se! — ele terminou com um sorriso sádico na cara pálida e mal barbeada.

O dia foi cheio para Harley, que precisou percorrer praticamente toda a mansão com Jason a guiando e explicando cada área, os cuidados especiais com pacientes daquelas salas, senhas, remédios, os nomes de alguns pacientes mais conhecidos e dos funcionários, todos muito mal humorados ou apáticos.

Depois de muitas horas andando e andando, os pés de Harley estavam doloridos e ela só queria tomar um banho e dormir, mas Jason ainda andava falando, falando, falando…

De repente desceram um lance de escadas e chegaram a um corredor no sub-solo, o fedor fez Harley acordar de suas divagações, mas ela só conseguiu prestar atenção em Jason quando estavam chegando no final do corredor.

— Neste quarto temos Waylon Jones, não se aproxime tanto Doutora. Ele costuma ficar no canto dele, mergulhado na sua piscina de água podre particular, mas nunca se sabe.

— O que ele tem na pele? — Harley espiara pela abertura da porta e vira num canto um homem corpulento, mas com um couro esverdeado e áspero.

— Inicialmente, algum tipo de ictiose mutante que o deixou com a pele grossa como a de um jacaré. Isso provocou sua reclusão desde cedo, então ele se tornou solitário, agressivo e canibal. Até afiou seus dentes para ficar mais fácil de arrancar a carne dos ossos.

— Cruzes!

— Ele é bem tranquilo se estiver bem alimentado. O mau cheiro se deve ao sangue podre que acaba sobrando no chão, pois o alimentamos com carne crua. Ele não come nada além disso. Ele realmente acha que é um crocodilo. Mas, o fedor também pode vir desse outro quarto — disse Jason se virando para a porta do outro lado do corredor — aqui jaz Solomon Grundy.

— Jaz? Como assim, jaz?

— Ao que tudo indica, esse homem deveria estar morto, apesar de andar, falar e bater em tudo que fique em sua frente. Ele nem sequer come nada há anos, e ainda está aí, gemendo e tentando se livrar das correntes. Melhor nem ficar muito tempo por esse corredor. Os próximos aposentos estão quase todos vazios. Vamos?

Jason se virou e, com seu corpo atlético, praticamente obrigou Harley a voltar pelo mesmo caminho por onde chegaram, mas ela se virou e viu um pequeno feixe de luz que fugia da porta do último quarto naquele corredor.

— E aquele quarto lá?

— Não é nada, não. Esquece. Temos que ir à ala superior, está na hora dos medicamentos.

⚬⚬⚬

Harley continuava andando pra lá e pra cá, por alas e alas, entre pacientes e mais pacientes, mas, mesmo depois de uma semana, aquele quarto no fim do corredor subterrâneo não saía da sua cabeça.

— Você viu? O Charada pegou mais um. Aposto que vão mandá-lo pra cá. — Disse Jason, apontando para a TV.

— Mais um? — Questinou Harley distraída.

— Mais um doido!

— Jason. Já lhe pedi que não fale assim. Eles são apenas mal compreendidos. Nós estamos aqui para cuidar deles, não para fazer piadas.

— Mas esse é baixinho, narigudo, feioso e se auto intitula Pinguim! Era um dos chefões do tráfico nas docas. — O rapaz se ria.

— Jason! Por favor!

— Mas ele é doido, ah isso é! — interveio Professor Milo — Se não fosse o Charada, essa cidade estaria perdida. Graças a ele todos esses doidos, ou esses criminosos incompreendidos estariam nas ruas, e nós… não sei onde.

— Edward Nigma. Está aí um homem de sorte. Trabalhava para os Wayne, era CEO das empresas, já não era pouca coisa. Aí, o casal morre num assalto, e descobrem que Thomas Wayne, o cara mais rico de Gotham, se não da América, deixou em testamento tudo para seu empregado. POW! O cara que era CEO agora é um ricaço excêntrico que adora charadas e salva a cidade dos criminosos. E o filho deles, onde será que foi parar? Ninguém mais o viu depois da morte dos pais.

Diante do falatório de Harley, Professor Milo gargalhou e se retirou da sala. Jason observava pálido. Seus olhos quase saltavam das órbitas e a jovem doutora jurou ter visto um gota de suor descer de sua testa.

— O que foi Jason?

— Nada! Nada não. Acho que esqueci alguma coisa no fogo. Já volto. — E saiu apressado.

⚬⚬⚬

— Não tenho culpa se você é relaxada e não prestou atenção quando te passei os casos. Se vire! Peça ajuda a Jason, com quem tem passeado pela mansão. Estou aposentado. Adeus! — E foi assim que o velho Professor Milo se despediu, batendo a porta do carro e saindo fazendo poeira ao acelerar mais do que realmente precisava.

Harley estava enterrada em papéis, casos dos mais escabrosos e que nunca imaginara durante sua faculdade.

Um homem que matava por prazer e marcava em seu corpo cada morte que provocara, outro que acreditava ser o Chapeleiro Louco de Alice no País das Maravilhas. Um velho assaltante que colocava a culpa em seu boneco de ventriloquismo e um professor de história que acredita ser a encarnação de Zeus na Terra. Ela não sabia por onde começar, então resolveu dar uma volta nos jardins.

“Incrível como as sombras corrompem” ela pensava enquanto andava por entre tulipas das mais variadas cores “quando cheguei aqui, era noite, e essas mesmas flores, enegrecidas pelas sombras, me botavam medo.”

— Olá! — Um elegante mulher de longos cabelos ruivos surgiu de trás de um arbusto cheios de rosas com um alicate de poda nas mãos.

— Ah, oi. Sou a Doutora Harleen Quinzel, nova médica do Arkham.

— Muito prazer. Me chamo Pamela Isley. Venho cuidar das flores do Arkham de vez em quando. Elas me acalmam.

— Tem feito um belo serviço, pelo que vejo. — Harley parou por uns segundos, observando. — Sinto como se já te conhecesse de algum lugar. Como se tivéssemos alguma ligação.

— Engraçado. Tenho essa mesma sensação. Deve ser coisa de outra vida.

— Ou de algum universo paralelo. — As duas se riram gostosamente sentindo uma leve brisa que percorria os jardins.

— Doutora! — Jason vinha ofegante atravessando o jardim. — O diretor está ao telefone. Deseja lhe falar.

Harley acenou com um sorriso para Pamela e se afastou, se juntando a Jason no caminho de volta à mansão.

— Vejo que já conheceu a Pamela. — disse Jason em voz baixa, quase um cochicho. — Cuidado! Ela é como a hera dos muros: Bela de se ver, mas extremamente venenosa.

Harvey deu uma olhadela por cima do ombro para ver a bela Pamela cortando alguns galhos da roseira silvestre aqui e ali. Não parecia perigosa.

Após um longa conversa com o diretor Jeremiah Arkham, Harvey conseguiu organizar mais ou menos seus pacientes por ordem de urgência, mas antes de desligar o telefone, ela se lembrou e questionou.

— Senhor. No corredor subterrâneo, aquele que fede a carniça, existe um quarto ao fundo que…

— Não chegue perto daquele quarto! Ele não é da sua conta. — Jeremiah desligou o telefone furiosamente, mas Harley ficou ainda mais curiosa e impelida a investigar aquele quarto.

⚬⚬⚬

Os dias se passaram vagarosamente. Harley andava pelos jardins sempre que podia, e sempre que o fazia, procurava por Pamela, e com ela conversava longamente.

Em seus passeios, percebeu um velho senhor que visitava o Arkham duas vezes por semana, religiosamente, às quartas-feiras e aos sábados. Harley o observava entrar e sair da mansão, nunca olhava para os lados, nunca falava com ninguém, mas quando tentou segui-lo, percebeu como ele era hábil em despistá-la.

Certo dia, decidiu abordar o velho assim que ele saísse da mansão, visto que, quando entrava, algum segurança geralmente estava de olho. Assim o fez. Adiantou seus trabalhos, esperou que o velho entrasse e partiu para seus passeios nos jardins, não procurando Pamela dessa vez. Focou em permanecer próxima ao portão e, quando percebeu um vulto se aproximando, avançou sobre ele.

— Boa tarde, senhor. Posso saber o que vem fazer neste asilo toda quarta-feira e sábado?

O velho, vestindo um velho smoking, em nada pareceu surpreso com sua aparição. Na verdade ele sorria amistosamente e respondeu de forma calma com seu elegante sotaque inglês.

— Boa tarde doutora Quinzel. Meu nome é Alfred, Alfred Pennyworth. Venho vistar um velho conhecido, e isso é tudo que a senhorita precisa saber. — Ele tentou se desviar, mas a moça deu um passo lateral, o impedindo.

— Quem é esse seu velho conhecido?

— Ora, minha cara. Eu agradeceria enormemente se não impedisse minha partida. Tenho compromissos e odeio chegar atrasado. Não que vocês americanos saibam o valor da pontualidade, mas vou lhe dizer algo que pode lhe ser de grande valia na vida. Não meta seu bedelho onde não lhe chamaram. Passar bem! — Eles marchou para cima de Harley, obrigando-a a sair de lado para não ser pisoteada.

⚬⚬⚬

Harley decidiu se dedicar ao seu trabalho e deixar de lado suas perturbações com o quarto secreto, como resolveu chamá-lo. Atendia a seus pacientes, passeava nos jardins, jogava papo fora com Pamela e assistia aos shows de Jack Napier, um comediante da TV.

— Adoro esse cara. — Dizia Harley suspirando e com os olhos vidrados, enquanto Jason balançava a cabeça tentando entender como alguém podia gostar de piadas tão ruins.

Mas os dias foram passando e Harley não conseguia dormir. Quando dormia, sonhava com o tal quarto. Então, quando acordou de um desses pesadelos, resolveu se esgueirar até lá usando a escuridão a seu favor.

Lá se foi ela, desceu as escadas, atravessou o salão, abaixou-se atrás de uma poltrona assim que um segurança se revelou em sua ronda noturna, o esperou passar e desceu mais um lance de escadas, se encontrando no, agora ainda mais horripilante e pestilento, corredor subterrâneo. Olhou rapidamente ao seu redor. “Aqui devia ser a velha adega da família Arkham”, pensou, mas não estava ali para isso. Pé ante pé, andou sem fazer barulho e segurando uma gargalhada nervosa que se atravessava em sua garganta. Até que chegou, mesmo sem acreditar, de fronte à porta.

Como ela bem suspeitava, uma fina fresta deixava vazar luz pelo corredor, então se aproximou e tentou olhar pela brecha. Com muita dificuldade percebeu que as paredes e piso eram forrados com algo almofadado, muito provavelmente para evitar que seu ocupante se machucasse ao se lançar contra. Quase se virou de cabeça pra baixo, mas pouco conseguia ver por aquela fresta. Levantou-se e percebeu que havia uma placa encaixada na porta, que retirou e trouxe até a luz projetada da fresta. Para seu desespero, eram apenas três letras: B.T.W.

— O que isso significa? — resmungou consigo mesma no momento exato em que uma mão se pôs sobre seu ombro a puxando para trás de supetão.

Harley deu um grito e deixou cair a placa. Jason, que a puxara, tapou sua boca com uma mão, enquanto com a outra fez sinal de silêncio.

Quando ouviram passos no início do corredor, ele tirou a mão da boca de Harley e fez sinal que ela o seguisse, mas foi em direção ao fim do corredor, onde tateou as pedras esculpidas e algo fez um click. Uma parte da parede correu para o lado e outra porta apareceu à sua frente, como num passe de mágica. Jason a puxou para dentro da nova abertura e apertou outro botão, ao que a parede se fechou de forma incrivelmente silenciosa.

Jason a conduziu por um corredor estreito que subia, saindo próximo à lareira desativada no salão principal. Quando Harley tentou questionar algo, ele apenas virou-se com o dedo em riste em frente à boca com uma carranca de ódio em sua face. Ela aceitou o comando e foi silenciosamente até seu quarto, onde ficou o resto da noite acordada.

⚬⚬⚬

— Jason, preciso da sua ajuda para terminar algumas anotações com esse paciente. — Harley surgiu na porta de seu escritório gritando ordens ao seu funcionário.

Jason, olhou de soslaio, torceu a boca e entrou na sala, onde se encontrava, além da doutora, um velho que nunca falou uma palavra sequer desde que o colocaram no Arkham. Ele já sabia o que ela queria.

— Agora me fala tudo sobre aquele quarto. TUDO! — Ela ordenou a Jason e desviou o olho ao velho, que nem se mexia.

— Olha, eu não posso…

— Pode e vai. A sua ficha está na minha mesa e eu posso falar qualquer coisa. Posso falar que você passou a mão em mim. Eu posso acabar com a sua vida. Me fale tudo!

— Harley, eu realmente…

— Tudo, Jason. TUDO!

— Tudo bem, senta aí. Eu nem deveria saber disso, mas minha curiosidade me fez ouvir muitas conversas. O que vou te contar pode te matar, assim como pode matar a mim. Anos atrás, o casal Wayne levou seu filho, Bruce, para ver um filme no velho cinema da cidade. Era a re-exibição de um filme antigo, em preto e branco, O Homem que Ri, se não me engano. Quando saíram de lá, foram…

— Assaltados. Sim, eu sei. Todos em Gotham sabem dessa história. Não me enrola Jason!

— Sim, dizem que foi um assalto, mas, mesmo depois de matar o dois, ele não levou nada. Até mesmo o colar de pérolas que ele arrancou no pescoço de Martha Wayne, foi encontrado jogado a poucos passos do corpo. Mas, pior que isso, o menino, Bruce, viu tudo. Quando a polícia chegou ele estava em pé, olhando com os olhos arregalados pro nada, ele congelou, entrou em choque. O velho mordomo dos Wayne, Alfred, chegou…

— Espera aí! Alfred Pennyworth? — Harley ficava cada vez mais abismada.

— Sim, esse mesmo. Ele quando chegou na delegacia, gritou com todos os policiais como se mandasse na cidade, pegou o menino e levou pra casa, sem querer saber se o menino tinha que dar depoimento ou não. Depois de um tempo, ele percebeu que não daria conta de cuidar do pequeno Bruce sozinho, pois o menino pulava do catatônico pro agressivo como se virasse a página de um livro. Então Alfred o trouxe para cá, pois são as Empresas Wayne que bancam esse asilo.

— Jason, qual o nome completo do Bruce?

— Bruce Thomas Wayne.

— BTW, Claro! Mas porque ninguém sabe que ele está aqui?

— Lembra quando o Nygma herdou as Empresas Wayne? Você não acha estranho que a mente mais inteligente e viciada em charadas tenha, surpreendentemente, herdado isso tudo? Principalmente depois de terem surgido boatos que que ele seria demitido? Ele estava lá dentro, pode ter forjado tudo. O ladrão não levou nada e o CEO, que seria demitido, herdou tudo. Conveniente, não? Pois então, logo que ele pôs as mãos nas Wayne, ele descobriu onde o pequeno Bruce estava, então colocou uns capangas por aqui e ordenou que tudo ficasse no mais absoluto sigilo, pois o menino é o único que pode arrancar sua herança. Se alguém abrir a boca, ele acaba com a vida de todos, fecha o asilo.

— Então porque ele não matou logo o Bruce?

— Nem eu entendi isso até hoje, mas acho que manter o filho legítimo dos Wayne louco deve ser mais útil que matá-lo e ter que esconder o corpo. Se algum dia alguém falar alguma coisa, ele mostra que vem “cuidando” do herdeiro legítimo e continua montado na grana. Aliás, muita grana. Sabe que foi ele que financiou toda a campanha do prefeito Dent? E depois que ganhou, o prefeito começou a falar mal dele, chamando ele de vigilante e tudo mais. É um duas caras mesmo!

— Tá, que se exploda o prefeito. Então aqueles que apareceram ontem no corredor…

— São os capangas do Charada. E é por isso que estou com medo, e você também deveria estar. Agora me deixa sair e fazer meu trabalho, se ficar muito tempo aqui eles vão acabar desconfiando.

⚬⚬⚬

Naquela noite, para variar, Harley não dormiu. Durante a madrugada ouviu uma movimentação estranha na velha mansão, correu para fora de seu quarto e avistou vários enfermeiros e seguranças correndo para o corredor subterrâneo. Não se conteve e os seguiu, ignorando qualquer perigo que isso pudesse representar.

Ao chegar ao corredor, o barulho era infernal. Todos os internos estavam agitados, mas se destacavam o Crocodilo e Grundy, que se debatiam tentando quebrar as correntes enquanto urravam medonhamente.

De repente, tudo se silenciou e Harley sentiu cada pelo de seu corpo se eriçar num arrepio medonho. Uma gargalhada maníaca brotou de dentro do quarto ao final do corredor, que estava aberto e com dois enfermeiros à porta, observando estupefatos.

Harley avançou nervosamente gritando “Eu sou a médica!” para cada um que tentava impedi-la, mas estancou ao chegar na porta da quarto. Bruce, um homem alto e magro, estava em pé parado no canto da cela estofada, agora tingida quase que completamente de vermelha. Sua gargalhada era horripilante, seus olhos aterradores fitavam Harley e sua aura psicopata emanava em um calor inexplicável. Em sua mão, um pequeno pedaço de pedra afiada, também tingida de carmim, com o que tinha talhado em sua face um sorriso eterno, de orelha a orelha, deixando à mostra todos os seus dentes. E ele ria nervosamente, apenas ria.

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