Vivo passando por mim
Vivo passando por mim, como as águas de um rio passam por si e passam e se vão longe. Mas elas não olham pra trás, eu sim. As águas do rio não contam os peixes que nadam por elas, não recordam as pedras que contornam, não remoem as lamas do barranco que desbarrancam pra dentro e fazem sujeira. Essas águas, sempre correntes, sempre passando, sempre correndo, nunca parando. Eu não. Ás vezes eu paro, olho pra trás, lamento mazelas, choro tristezas novamente, me alago, me represo, me magoo. Às veze reparo nos pássaros, outras ando correndo sem contar os passos. Vivo sobre escombros empoeirados de uma vida que já não vive, mas que morta faz possível que a vida brote novamente. Não! Não broto. Não quero firmar raízes. Quero ser como as águas. Aquelas que já te disse, as que correm e correm até chegar no mar.